sábado, 20 de setembro de 2014

Relatos de artista (1)

Comecei esse caderno de desenhos intitulado Abortos. Um pequeno formato de páginas amareladas destinado a rabiscos rápidos, distraídos, inacabados. Duas semanas de uso e a única forma com a qual me deparo é a do desenho da palavra: fragmentos de dias, descrições de pessoas, ideias para poemas, uma transcrição de um jogo de búzios e, na última página, a descrição imaginária de uma casa em Medelín, Colômbia. 
Fico pensando que essa anotação exaustiva das coisas seja apenas exercício de uma escrita ansiosa e ainda mal articulada. Tem um caráter provisório, pois, ao passo que o que realmente quero é escrever sobre a pausa e sobre o que as situações têm de velado, a descrição do corriqueiro me parece uma atitude de armazenamento de contemplações a serem devidamente esmiuçadas. Mas elas nunca são. Permanecem apenas fragmentos nos diversos cadernos que eu coleciono sem quase nunca reler.


(com o perdão da má qualidade da foto)